top of page

As desigualdades sociais que historicamente afetam a população brasileira impactam diretamente a garantia do direito à educação no país. Basta um olhar mais atento aos indicadores educacionais para constatar que aqueles que estão fora da escola, em situação de atraso escolar e/ou nos níveis mais baixos de proficiência nas avaliações externas são os pobres, negros, filhos de pais com baixa escolaridade e moradores do campo e das periferias dos grandes centros urbanos.

 

Em que pese os avanços obtidos nos últimos anos, ainda há muito por fazer. A série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013 do IBGE, por exemplo, apresenta melhoras significativas na taxa de frequência nos diversos níveis de educação, principalmente na educação infantil e no ensino superior; na média dos anos de estudo da população acima de 15 anos; e na taxa de analfabetismo, inclusive ao se observarem recortes etários, de renda e de raça/cor, porém, as desigualdades continuam muito grandes.

 

Exemplo disso são os resultados do levantamento feito pelo movimento Todos Pela Educação, que demonstra que apenas 39,5% dos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental que fizeram a Prova Brasil de 2013 alcançaram ao menos 225 pontos. Em língua portuguesa, só 45,1% atingiram ao menos 200 pontos.  Essas são as pontuações consideradas pelo movimento como adequada a serie avaliada. A escala da Prova Brasil vai de 0 a 500 pontos.

 

O local de moradia dos alunos também influencia no desempenho. Enquanto que 48,03% dos estudantes 5º ano do Ensino Fundamental da zona urbana alcançaram a pontuação mínima estabelecida em língua portuguesa, na zona rural esse percentual é de apenas 22,77%. A diferença entre negros e brancos também é grande: 57,41%, contra 33,68%, respectivamente.

 

Para o Cenpec a superação desse cenário passa pelo enfrentamento de desigualdades sociais, com forte investimento na realização de pesquisas e programas de intervenção em territórios vulneráveis. É preciso promover políticas pró-equidade que evitem que a população mais pobre tenha negado seu direito à educação.

 

 

 

 

Debate

Políticas educacionais equitativas para uma educação mais justa

 

 

Em entrevista, Vanda Ribeiro, coordenadora adjunta da área de Coordenação de Desenvolvimento de Pesquisas do Cenpec, explica o conceito de equidade e como ele se aplica nas políticas educacionais. Para a pesquisadora, “um sistema educacional equitativo é aquele com o maior número possível de alunos que dominam a base de conhecimentos estipulada pela sociedade, independente da sua situação de origem, como a renda, a raça, a escolaridade dos pais, entre outros fatores”.

 

 

 

O que é equidade e como ela está associada às políticas educacionais?

Cenpec: A busca pela equidade é uma tentativa de produzir a maior igualdade possível dentro de uma sociedade como a nossa, que produz desigualdade o tempo todo e que ao mesmo tempo valoriza a liberdade e a igualdade. A educação básica é um bem valorizado socialmente, ela é um direito, mas ao mesmo tempo também é obrigatória. Sobre isso, o filósofo americano John Rawls vai dizer que o mérito não é um bom critério para distribuição do acesso à educação porque há uma grande correlação entre a situação de origem e o desempenho escolar. É muito difícil discernir o que é mérito e o que é reflexo das condições de origem do sujeito. Para o sociólogo François Dubet, o mérito também não é um bom critério para a educação básica porque ela é obrigatória. Segundo ele, quando não são oferecidas todas as condições necessárias para que a educação aconteça, o que acontece com aquelas pessoas que não escolheram estar ali, mas são considerados fracassados? Esse é um cenário de injustiça, porque os fatores sociais pesam muito sobre o individuo. Todas as pesquisas demonstram que há uma correlação muito grande entre a origem social do aluno e o seu desempenho na escola. Isso não é mérito. Então, porque a educação básica se organiza por meio do mérito?  Tanto Dubet, quanto Rawls defendem um critério de igualdade de base, ou seja, toda criança deve ter acesso aos conhecimentos que a sociedade define como necessários, a tudo aquilo que o Estado determinar que ninguém deve ficar sem. Quando esse direito não é cumprido, essas crianças são penalizadas em sua trajetória escolar, têm sua dignidade afetada, deixam de ter uma vida escolar saudável e, mais tarde, não poderão participar em pé de igualdade de processos meritocráticos. Igualdade de base é a tentativa de construir a maior igualdade possível no âmbito da educação.

 

Como pode ser aferida a equidade no sistema educacional?

Cenpec: A aferição da equidade não ocorre apenas com a avaliação, por que não é só o desempenho do aluno, nem a média da escola. É a relação entre a aprendizagem (que pode ser aferida de diferentes formas) e a condição de origem social dos sujeitos. Um sistema educacional equitativo é aquele com o maior número possível de alunos que dominam a base de conhecimentos estipulada pela sociedade, independente da sua situação de origem, como a renda, a raça, a escolaridade dos pais, entre outros fatores. O justo seria zerar esse peso. Mas isso seria o cenário ideal. Então, um sistema de ensino mais justo é aquele que consegue garantir que as crianças com menor capital cultural e social cheguem ao mesmo patamar daquelas que têm maior capital cultural. Há várias possibilidades de aferir a equidade. Mas para isso a sociedade precisa definir qual é esse patamar e sempre relacionar o desempenho, os resultados da Prova Brasil é um exemplo, com a situação socioeconômica, com indicadores de capital social, de raça, etc.

 

Quais políticas são necessárias para garantir a equidade?

Cenpec: Ao implementar uma política, os gestores precisam ter em mente que a produção da desigualdade é renovada o tempo todo na escola e, por isso, mesmo a política mais adequada pode sofrer interferências a partir do interesse do professor, da família e de outros agentes. Para superar isso é necessário um sistema de pilotagem. Isso significa que os gestores devem fazer uma avaliação sistemática para verificar a todo o momento se aquilo que está sendo executado está alcançando os resultados esperados. Não adianta olhar apenas o processo, porque, por mais perfeito que ele seja, existe a possibilidade de não garantir o resultado. Uma política pró-equidade precisa ser vigilante, para que os ajustes necessários sejam feito ao longo do percurso.  Já há na literatura referências sobre algumas práticas que favorecem a equidade. Um exemplo é a opção das redes de ensino por montar turmas heterogêneas. Essa escolha propicia um ambiente de aprendizagem e de troca que favorece o desenvolvimento de todos. Quando a opção é por turmas homogêneas é constituída uma situação de desigualdade brutal, nas quais os alunos com mais dificuldade são os mais prejudicados. Isso não significa que não devemos apoiar os estudantes com altas habilidades, por exemplo, mas se fizermos só isso, sem garantir a base, estamos ferindo o princípio da equidade.

 

Em 2013 e em 2014, a Coordenação de Pesquisa investigou a equidade na educação por meio do estudo de caso do Ceará e do Acre. Há evidências de políticas pró-equidade nesses estados?

Cenpec: A pesquisa no Acre ainda não foi concluída, mas o que nós vimos no Ceará e os indícios que temos a partir a análise preliminar no Acre é que esses estados têm implementado políticas muito vigilantes. No caso do Ceará, eles trabalham com Regionais, que tem ações em conjunto com as secretarias municipais, que têm pessoas nas secretarias que fazem o diálogo com as escolas. Eles estão o tempo todo pensando processos que podem favorecer a aprendizagem, fazem as avaliações, analisam seus resultados e significados, para repensar a formação de professores, os materiais didáticos... Pelo menos até 2012, quando a pesquisa de campo estava ocorrendo, nós verificamos que esse processo estava funcionando numa tentativa deimplementar uma política mais sistêmica.

 Em debate: o enfrentamento das desigualdades

Direito à educação passa pelo enfrentamento das desigualdades

início

Contribuir para a formulação e implementação de POLÍTICAS QUE ENFRENTEM AS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS, com foco na infância, adolescência e juventude

Veja também:

E O ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES

Veja também:

ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES
EM NÚMEROS 

Numeros

Os números sobre o tema das desigualdades

ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES EM NÚMEROS 

Veja também:

A gestão escolar e o PNE

Art. 2º  São diretrizes do PNE:

 

III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação;

 

Meta 11: triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos 50% (cinquenta por cento) da expansão no segmento público.

 

11.13) reduzir as desigualdades étnico-raciais e regionais no acesso e permanência na educação profissional técnica de nível médio, inclusive mediante a adoção de políticas afirmativas, na forma da lei;

 

Meta 12: elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público.

 

12.5) ampliar as políticas de inclusão e de assistência estudantil dirigidas aos (às) estudantes de instituições públicas, bolsistas de instituições privadas de educação superior e beneficiários do Fundo de Financiamento Estudantil - FIES, de que trata a Lei no 10.260, de 12 de julho de 2001, na educação superior, de modo a reduzir as desigualdades étnico-raciais e ampliar as taxas de acesso e permanência na educação superior de estudantes egressos da escola pública, afrodescendentes e indígenas e de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, de forma a apoiar seu sucesso acadêmico;

 

Meta 14: elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a titulação anual de 60.000 (sessenta mil) mestres e 25.000 (vinte e cinco mil) doutores.

 

14.5) implementar ações para reduzir as desigualdades étnico-raciais e regionais e para favorecer o acesso das populações do campo e das comunidades indígenas e quilombolas a programas de mestrado e doutorado;

 

Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio.

 

20.9) regulamentar o parágrafo único do art. 23 e o art. 211 da Constituição Federal, no prazo de 2 (dois) anos, por lei complementar, de forma a estabelecer as normas de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, em matéria educacional, e a articulação do sistema nacional de educação em regime de colaboração, com equilíbrio na repartição das responsabilidades e dos recursos e efetivo cumprimento das funções redistributiva e supletiva da União no combate às desigualdades educacionais regionais, com especial atenção às regiões Norte e Nordeste

 

Superação das desigualdadas no PNE

Os números sobre o enfrentamento das desigualdades socioespaciais

E O ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES

Alunos com desempenho adequado à 4ª/5º ano do Ensino Fundamental no Saeb 2013(%)

Localidade (%)

Raça (%)

A pontuação mínima esperada para os alunos da 4ª série/5º ano do Ensino Fundamental na Prova Brasil, pelo Todos Pela Educação, é de 200 pontos em Leitura e 225 em Matemática.

Alunos do 4ª/5º ano do Ensino Fundamental que alcançaram a pontuação esperada na Prova Brasil (%)

Matemática

Português

PNE

Fonte: MEC/Inep/Daeb - Saeb 2013 – Tabulação do Todos Pela Educação

*Dados para o Brasil incluem escolas federais, estaduais, municipais e privadas da área urbana e área rural com mais de 10 alunos.

* Raça/Cor autodeclarada pelos alunos que responderam o questionário.

** No 3º ano do Ensino Médio, a diferença entre pardos e pretos no desempenho médio em Língua Portuguesa não é estatisticamente significante.

Nota: Para 2013 não foram disponibilizados as respostas dos questionários dos alunos para  as seguintes UF's: Paraíba, Bahia e Espírito Santo . Por essa razão os dados acima não consideram essas UF's.

bottom of page